

Lisa bateu com um baque surdo nos airbags que dispararam no último momento.
A consciência escapava, mas ela não conseguia desviar o olhar do homem que, apenas sete dias antes, havia acompanhado até sua última morada.

Era realmente ele?
Ou será que ela estava morrendo, e sua alma já estava em outro mundo, onde estavam juntos novamente?
Flashs de memória surgiram — o dia em que recebeu a notícia terrível.
Como se alguém tivesse rebobinado a fita da sua vida, forçando-a a reviver a dor mais insuportável.
— Não! — seu grito foi cheio de desespero e ecoou por todo o apartamento.
— Vocês estão mentindo! Isso não pode ser verdade!
Meu Sasha não poderia ter ido embora assim!
Ele nunca me deixaria!
Lisa caiu no chão, quase desmaiando.
Era insuportável aceitar que Sasha não existia mais.
Como aquilo podia ter acontecido?
Ele era jovem, cheio de energia, cheio de vida… O chefe ligou com a notícia trágica — um coágulo se desprendeu, e a ambulância não chegou a tempo.
— Não havia nada a fazer — dizia a voz do outro lado da linha, como se fosse de um filme de terror, e essas palavras ficaram presas em sua cabeça, sem lhe dar paz.
E agora? Como respirar sem ele, se ele era o seu ar?
As lágrimas caíam, mas Lisa nem as sentia.
O telefone ainda estava no ouvido, e ela olhava para o vazio, esperando que fosse apenas um pesadelo do qual logo acordaria.
No necrotério não a deixaram entrar — só pôde ver o marido no enterro.
Até o último momento esperava que ele abrisse a porta, risse e dissesse que era só uma brincadeira de mau gosto.
Afinal, era primeiro de abril…
Ela o perdoaria por tudo, só para que estivesse vivo.
Mas ele não voltou. Estava deitado no caixão — como se estivesse dormindo.
Lisa chorava, jogava-se sobre o corpo dele, implorava para que acordasse.
Desmaiava, e tentavam reanimá-la.
A mãe de Sasha também mal se aguentava, e o pai tentava afastar Lisa do caixão, convencendo-a a aceitar a realidade.
Mas ela se debatia, não queria deixá-lo ir.
O funeral passou como um borrão.
Ela viu a tampa se fechar, sentiu ser arrastada, enquanto gritava, suplicando para que a colocassem ao lado dele.
Sem ele, sua vida perdeu o sentido.
Demorou muito para conseguir jogar um punhado de terra — não conseguia aceitar que ele tinha partido.
Sozinha no apartamento vazio, Lisa tentou se recompor, mas só conseguiu por alguns minutos.
Sentando-se junto à parede, lembrou-se do primeiro encontro deles.
— Moça, acho que você deixou cair isso… — disse uma voz calorosa.
Sasha lhe estendeu uma rosa vermelha na entrada da universidade.
— Não é minha, — respondeu ela.
— Agora é, — ele sorriu.
— Você parecia tão pensativa que quis te alegrar.
A partir daquele momento, tornaram-se inseparáveis.
Loiro, encantador, com um olhar suave e uma voz doce — ele a conquistou à primeira vista.
Ele sonhava com uma família, filhos, um amor verdadeiro.
A história deles parecia um conto de fadas.
Mas tudo havia acabado…
O sorriso provocado pelas lembranças desapareceu, dando lugar a novas lágrimas.
Voltar à realidade era insuportável.
Ficaram juntos por sete anos, sendo três casados.
O casamento foi simples, sem exageros, pois o mais importante para eles era estarem juntos.
E agora ela estava sozinha, com um vazio por dentro.
Não lembrava como chegou até a cama e adormeceu.
O telefone a despertou.
O chefe tinha permitido que descansasse, mas a substituta temporária não estava dando conta.
— Lisa, oi.
É o Maksim.
Você poderia me ajudar com o relatório?
— Diga, — respondeu ela sem vida.
Explicou, desligou o telefone e enterrou o rosto no travesseiro novamente.
As lágrimas já não vinham mais, mas os olhos ardiam.
O corpo inteiro lembrava daquela dor — como quando, na infância, um garoto da vizinhança jogou areia em seu rosto.
Levantou-se e foi até a cozinha.
Precisava comer algo.
Mas ao ver a comida, ficou enjoada.
Bebeu água e voltou para o quarto.
Tinha medo de ver fotos e vídeos.
A voz de Sasha ecoava em sua mente, e ela sentia que ele ainda estava por perto.
Mas, ao se virar, sempre encontrava o vazio.
Passou uma semana.
Lisa decidiu voltar ao trabalho — entre tarefas e papéis, a dor se tornava mais suportável.
Parou de sentir qualquer coisa — foi a única forma de sobreviver.
Na sexta-feira, decidiu visitar os pais na casa de campo.
Eles a chamavam fazia tempo, mas era difícil encarar os olhares cheios de compaixão.
Agora sentia que talvez isso a ajudasse.
A estrada era longa, e Lisa dirigia como em transe.
As lágrimas voltaram a embaçar sua visão.
Não percebeu que o carro invadiu a contramão.
Um caminhão enorme vinha em sua direção.
Tudo desapareceu, fez-se o silêncio — como se fosse o fim.
Mas de repente, uma voz:
— O volante! Vira!
Sasha agarrou o volante, virando bruscamente o carro.
Ele estava ali. Vivo.
Etéreo, como fumaça. Mas dela.
O carro desviou, evitando a colisão, mas bateu na mureta de proteção.
Os airbags salvaram sua vida.
Um fio de sangue escorria pela testa, mas Lisa não tirava os olhos do marido.
— Eu morri? Estamos juntos de novo? — sussurrou ela.
— Ainda é cedo para você partir, — disse ele suavemente. — Você não está sozinha.
Você tem por quem viver.
Promete que não vai mais se arriscar?
Eu não poderei ficar ao seu lado, mas estarei te observando.
Me deixe partir. Viva.
Seja feliz.
Ainda vamos nos reencontrar.
E ele desapareceu. Deixando-a sozinha, chorando dentro do carro amassado.
A porta se abriu com força.
— Ei, você tá bem? Tá viva?! — gritou um homem, pálido de susto.
— Onde está sua carteira de motorista? Tá bêbada?
E o homem que estava contigo — pra onde foi? Eu vi ele!
Então não era imaginação… Ele realmente estava lá.
Lisa olhou para o caminhão parado no acostamento.
Era um milagre estar viva.
— Ficou louca?! — gritava o caminhoneiro. — Eu tenho filhos!
Esposa!
Você quase matou todos nós! O que pensa que está fazendo?!
Ela apenas assentiu em silêncio, tremendo por inteiro.
O homem lhe deu uma jaqueta. Esperavam a polícia e a ambulância.
Quando tudo terminou, Lisa foi levada ao hospital — desidratação e exaustão.
Deram um calmante ao caminhoneiro.
Pela manhã, os pais chegaram.
— Vamos te levar pra casa! Sem discussões!
Você teria matado o Sasha de novo se ele te visse nesse estado! — chorava a mãe.
O médico entrou:
— Ela vai precisar ficar mais um pouco. Está sob forte estresse e… está grávida.
— O quê? — Lisa mal conseguiu entender.
— Sete semanas. Não sabia?
— Eu… estou grávida, — sussurrou ela, abraçando a mãe.
— Sasha se foi… mas ele me deixou o nosso milagre.
E naquele momento, Lisa entendeu: por aquele bebê, ela iria viver.
Ela precisava ser forte — por aquele filho deles.
E ela contaria a ele como era seu pai — bondoso, luminoso, amoroso.
E, em pensamento, ela disse:
— Eu prometo.
Por ele — eu vou conseguir.
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