

No dia em que me casei com ele, sua família ainda era pobre. No entanto, ele recebeu todo o dote e veio me procurar em meio aos olhares atônitos e invejosos de tantas moças da aldeia.
Achei que tinha sorte de ter me casado com um homem tão bonito, mas depois do casamento, descobri que ele também era incrivelmente carinhoso e atencioso. Eu não comia cebola nem comida apimentada, e ele se lembrava de cada detalhe.
Quando saíamos para comer, eu sempre pedia ao dono do estabelecimento que não colocasse cebolas no meu prato e, se acidentalmente colocassem, ele se encarregava de retirá-las uma a uma, só para que eu pudesse comer em paz. Ele me mimava como uma criança, sempre me mantendo na jovialidade do dia do nosso casamento.
Mas todo casamento, mais cedo ou mais tarde, deixa cicatrizes. Minha sogra teve quatro filhos; ele era o segundo, mas quase todas as responsabilidades domésticas — desde carregar coisas pesadas, consertar a casa até levá-la ao médico — recaíam sobre ele. No início, eu admirava sua piedade filial, mas, aos poucos, um sentimento de tristeza foi crescendo dentro de mim. Certa vez, eu disse a ele:
“Sua mãe se aproveita demais de você”.
Ele sorriu.
“É porque ela confia em mim.
“Eu respondi,
“Não, é porque ela te vê como alguém bom demais e fácil de mandar.”

Um dia, só porque fiz um comentário sobre sua mãe, ele perdeu a calma e disse com raiva:
“Vamos nos divorciar. Quem não se divorcia é covarde.”
Fiquei chocada; era a primeira vez que o via daquele jeito, e nunca imaginei que ele realmente me pediria o divórcio. Mas, alguns dias depois, ele voltou com uma caixa enorme de sorvete, o meu favorito, e, sorrindo, disse:
“Eu sou esse covarde, me perdoe.”
Eu ri em meio às lágrimas.
Anos se passaram. Seu pai e seu irmão mais velho morreram prematuramente. Seu irmão mais novo teve problemas com a lei. A família ficou sem apoio, exceto meu marido, que assumiu tudo sem reclamar. Minha sogra, em vez de aliviá-lo, passou a depender ainda mais dele.
Quando nossa filha entrou na faculdade, finalmente senti que tínhamos um tempinho para nós. Mas a alegria não durou muito: ele adoeceu. Com quase 60 anos, sofria de hipertensão, diabetes, colesterol alto… até sofrer um derrame que afetou vários órgãos. Eu ficava ao lado dele dia e noite, dando banho, alimentando, sem deixar ninguém tocá-lo. Pensei: Ele cuidou de mim a vida toda, agora é a minha vez de retribuir esse amor.
O que mais me magoou foi que, durante todo esse tempo, minha sogra nunca o visitou. Ela só apareceu quando ele já estava morrendo. Com a voz fraca, ele disse a ela:
“Mãe… eu quero comer a sua comida”.
Ela chegou em casa, preparou quatro pratos e mandou meu cunhado mais novo trazê-los. Meu marido não conseguia mais comer; ele apenas fez um sinal com os olhos para que eu comesse. Eu entendi que essa era a última maneira dele de “cozinhar” para mim, usando as mãos da mãe. Eu comia chorando.
O dia fatídico chegou. O banco de sangue do hospital ficou sem o tipo sanguíneo dele. Seu irmão mais novo se ofereceu para doar, mas não era compatível. Os médicos fizeram mais exames, e o resultado foi sombrio: meu marido não era filho biológico dos pais dele.
Fiquei em choque. Durante toda a sua vida, ele viveu para agradar a uma mãe que nunca o amou de verdade. Mais tarde, em particular, perguntei a ele, e ele assentiu silenciosamente: sabia disso há anos, depois de ouvir acidentalmente uma conversa entre os pais. Nenhum dos seus irmãos sabia. Os sorrisos resignados diante dos excessos da mãe não eram porque não machucassem, mas porque ele ainda ansiava por um pouco de reconhecimento e carinho que nunca recebeu.
Lembrei-me então de como ele às vezes se comportava como um garotinho comigo, em busca de afeto. Eu costumava brincar:
“Você já cresceu, como pode ser tão doce? Eu sou mesmo sua mãe?”
Agora eu entendia: era a sua maneira de compensar o amor maternal que lhe faltou na infância.
Ele foi embora numa tarde chuvosa. O quarto estava tão silencioso que eu ouvi claramente meu coração se partindo. Nossa filha me levou para morar com ela. Certa tarde, enquanto caminhávamos à beira do lago, ela disse de repente:
“Papai me disse: cuidei da sua mãe a vida toda, agora não aguento mais. Então, de hoje em diante, eu vou cuidar dela.”
Abracei-a e sorri em meio às lágrimas. O amor dele nunca me abandonou; apenas continuou em outra forma.
Desde o dia em que ele foi embora, aprendi a viver mais devagar. Todas as manhãs, ainda inconscientemente, rolo para o lado da cama onde ele costumava se deitar, e então me lembro de que aquele vazio jamais poderá ser preenchido. Nos aniversários dele, preparo seus pratos favoritos e os coloco no altar, como se ele tivesse se afastado por um instante e estivesse prestes a retornar.
Nossa filha cumpre a promessa: cuida de mim em todas as refeições, todas as noites, nunca me deixa sozinha. Muitas vezes, no silêncio da madrugada, ouço sussurros:
“Pai, estou cuidando da mamãe para você, não se preocupe”.
Abraço o travesseiro, chorando silenciosamente, com dor, mas também com calor na alma.
Algumas pessoas me perguntam se, sabendo que ele não era filho biológico da mãe, não acho que seja injusto com ele. Eu apenas sorrio. Porque sei que ele nunca viveu para si mesmo, mas sempre para se doar. Ele escolheu permanecer em silêncio, suportar, cumprir seu dever filial, proteger aqueles que amava.
Hoje, olhando para trás, entendo que o amor não se resume a palavras doces, mas a uma vida inteira de sacrifício silencioso. Ele usou sua ternura para preencher lacunas, seu cuidado para curar feridas. Naquela tarde, à beira do lago, quando ouvi minha filha dizer: “Vou cuidar da mamãe em vez do papai”, percebi que seu amor nunca havia desaparecido. Era simplesmente transmitido, como uma chama cálida, dele para nossa filha, e de nossa filha para mim.
Se houver vida após a morte, ainda quero encontrá-lo novamente. Quero que ele segure minha mão numa tarde de vento, sorrindo orgulhosamente e dizendo:
“Ela é minha esposa”.
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