Mãe do céu, me proteja: morando com minha madrasta, no inverno, quando a temperatura cai abaixo de 10 graus, ela não me deixa usar cobertor, e quando tomo banho, ela me obriga a usar água fria. E há coisas ainda mais terríveis — a carta de partir o coração de um menino de 13 anos

As noites em Los Angeles às vezes trazem calafrios repentinos. O vento sopra pelos antigos complexos de apartamentos, cujas paredes finas rangem com os suspiros da imensa cidade. Em um pequeno quarto em um beco no leste de Los Angeles, Leo — um garoto de treze anos — se abraçava com força. O cobertor pesado havia sido retirado naquela manhã, pendurado em um varal perto do teto, fora de seu alcance. Sua madrasta, Marisol, dissera: “Um homenzinho deve ser forte. Todo mundo aqui suporta”, antes de bater a porta.

Leo não chorou alto. Estava apavorado que ela o ouvisse. Toda vez que o fazia, ela o obrigava a ficar debaixo do chuveiro com água gelada escorrendo pelo corpo até os lábios ficarem roxos. Ele aprendera a engolir as lágrimas, deixando-as cair como pedras contra o peito. Naquela noite, porém, o ar estava frio demais. Sua pele doía. Ele pensou em sua mãe — que falecera em um dia de outubro, quando abóboras e calêndulas ainda enfeitavam as ruas para o Halloween e o Dia de los Muertos.

No criado-mudo, Leo havia construído um pequeno altar para ela: um buquê de flores secas, uma vela queimada e uma foto dela sorrindo com uma bandeja de pãezinhos doces recém-assados. Ela adorava cozinhar, e seu cabelo sempre cheirava a canela e farinha. Todas as noites, Leo escrevia uma carta para ela, dobrava-a e colocava-a sob a moldura.

“Mãe do céu, cuida de mim. Hoje, Marisol me obrigou a tomar um banho frio. Eu estava tremendo tanto que deixei a escova cair. Não consigo me cobrir nem quando a temperatura cai abaixo de 10°C. Prometi não chorar, como você me disse para ser forte. Mas… sinto tanto a sua falta.”

Ele dobrou o jornal, aninhou-se na cama e rezou para que o barulho do trânsito lá fora abafasse o som dos passos se aproximando.

Na escola, apenas uma pessoa parecia notar: a Sra. Jimena, sua professora de literatura. Ela chegava cedo, com café na mão, e observava seus alunos entrando. Leo estava sempre entre os primeiros, vestindo um casaco fino e com as mãos enfiadas nos bolsos para se aquecer. Sentava-se no fundo, tomando notas com cuidado, mas nunca levantava a mão.

Certa manhã, ela pediu à turma que escrevesse sobre “o lugar onde você se sente em paz”. Leo entregou uma folha em branco. No verso, havia o desenho de uma migalha de pão e a letra “M”. Depois da aula, ela o chamou de lado.

“Você está bem, Leo?” ela perguntou suavemente.

Ele manteve os olhos baixos. “Sim, senhora.”

“Suas mãos estão congelando”, disse ela, oferecendo-lhe uma xícara de chocolate quente. “Quer me dizer alguma coisa? Não precisa ser aqui. Eu posso ouvir.”

Ele hesitou, lembrando-se da ameaça de Marisol: “O que acontece em casa, fica em casa”. Mas o calor do chocolate o transportou de volta às manhãs com a mãe, quando ela polvilhava canela no leite morno. A lembrança rompeu seu medo. “Se eu contar… minha mãe vai voltar?”

A professora ajoelhou-se na altura dos olhos dele. “Sua mãe está sempre aqui com você”, disse ela, pressionando a mão sobre o peito dele. “Mas, para que as coisas mudem, precisamos de ajuda. Quer tentar?”

Leo tirou da mochila um maço de papéis amassados: suas cartas para a mãe. Entregou-as a ela. Enquanto lia, ela parou de repente ao ouvir as frases “água fria” e “sem cobertor”. Seus olhos se encheram de raiva.

“Posso compartilhar estas cartas com pessoas que podem te ajudar? Com ​​o Serviço de Proteção à Criança?”, ela perguntou gentilmente. “Mas primeiro, vou falar com seu pai.”

Leo abaixou a cabeça. Seu pai, Carlos, trabalhava no turno da noite como entregador. Desde a morte da esposa, ele mal falava e estava sempre exausto. Marisol se mudara discretamente, e Leo nem conseguia se lembrar de quando. “Será que o papai vai acreditar em mim?”, sussurrou.

“Falarei com ele de um jeito que ele ouça você”, ela prometeu.

Naquela noite, Marisol o obrigou a se ajoelhar no banheiro porque ele tinha “lavado mal a louça”. Água fria caiu sobre ele quando a porta da frente se abriu. Seu pai havia chegado cedo. Pela primeira vez em anos, ele não entrou silenciosamente. Abriu a porta do banheiro e viu o filho tremendo debaixo do chuveiro.

“O que é isso?” Sua voz falhou.

“Estou treinando ele”, gaguejou Marisol. “Ele é preguiçoso… é assim que acontece em todo lugar…”

Mas Carlos fechou a torneira, enrolou Leo numa toalha e puxou-o para perto. Seus olhos, antes embotados pela dor, agora brilhavam. “Ninguém na minha casa trata meu filho assim.”

Naquela noite, Carlos não dormiu. Ficou sentado na cozinha, lendo cada carta que o filho havia escrito. As palavras “Estou com frio”, “Sinto sua falta”, “Estou com medo” o cravaram como facas. Ele ligou para a Sra. Jimena, então amiga no escritório do distrito. Ao amanhecer, levou Leo até a casa da avó em Pasadena. Ela o abraçou com lágrimas nos olhos e o abraçou com força. Marisol se foi antes do nascer do sol.

Os dias que se seguiram foram como atravessar uma ponte de madeira rangente — frágil, mas seguindo em frente. Leo começou a fazer terapia com Diego, um jovem conselheiro do centro comunitário. Ele sempre colocava um saco de churros na mesa, como se dissesse: “Diga-me o que você quer, mas coma primeiro”.

“Você quer falar sobre sua mãe?” Diego perguntou.

Com uma voz suave, Leo ouviu: o cheiro de farinha, as risadas na cozinha, o jeito como ela escreveu a letra “L” com açúcar. Quando ele falou da morte dela, sua voz falhou. Diego não lhe disse “não chore”. Ele apenas assentiu, deixando as lágrimas rolarem.

Na escola, a Sra. Jimena passou uma carta para “alguém que não está mais aqui”. Leo preencheu três páginas, misturando inglês com as palavras vietnamitas que sua mãe lhe ensinara. Ele concluiu: “Eu não tomo mais banho frio, mãe.”

Carlos passou a trabalhar no turno diurno para poder estar em casa à noite. Tentou fazer pão doce com a receita da esposa. A primeira fornada queimou, e ele riu pela primeira vez em anos. “Sua mãe me daria uma bronca por isso”, disse ele, e Leo riu, polvilhando canela no leite.

Em novembro, as ruas se iluminaram com velas e abóboras para a temporada. No altar da família, Leo colocou a foto da mãe ao lado de um pão que seu pai finalmente havia assado direito. Ele sussurrou: “Mãe do céu, obrigado por cuidar de mim”. Em vietnamita, acrescentou: “Mẹ, cảm ơn mẹ đã bảo vệ con”.

Ao lado dele, Carlos pegou sua mão. “Me perdoe”, disse ele. “Fiquei ausente por muito tempo.”

Leo ergueu os olhos. Os olhos do pai não continham mais sombras, mas duas pequenas e constantes chamas de calor.

Naquele inverno, as noites caíam abaixo de 4°C. O vento uivava pelos becos e as luzes tremeluziam nas primeiras horas da manhã. Mas na casa da avó, Leo dormia sob um cobertor grosso que cheirava a sol.

Antes de dormir, ele escreveu uma última carta para colocar ao lado da foto de sua mãe:

“Mãe, estou bem agora. Tenho um cobertor quentinho. Tomo banho em água quente. Papai está comigo, assim como a Sra. Jimena e o Conselheiro Diego. Não tenho mais medo do escuro. Vou crescer do jeito que você queria: não forte porque preciso ser, mas forte porque sou amada.”

Ele apagou a vela. O quarto ficou em silêncio, exceto pelo leve zumbido da cidade. No escuro céu americano, ele imaginou ouvir o riso da mãe — leve e doce, como açúcar polvilhando um pão quentinho.

E naquela noite, finalmente, Leo dormiu profundamente.

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