

Victoria acordou, como sempre, às seis e meia — sem despertador e sem hesitar.
Lá fora o dia mal começava a clarear, com uma luz pálida surgindo no horizonte, e a casa já parecia “chamá-la”.

A cafeteira roncou de forma familiar, enchendo a cozinha com o aroma de café fresco.
Por hábito, ela pegou três xícaras — para si, para o marido e para a mãe dele.
Artem costumava dormir até o meio-dia.
Valentina Petrovna apareceu na cozinha, como sempre, com a expressão de eterno descontentamento.
— Mingau de novo? — resmungou, sentando-se.
— Antigamente as mulheres sabiam cozinhar de verdade.
Faziam panquecas, bolinhos, tortas…
Victoria mexia o mingau em silêncio, ouvindo os constantes resmungos. Seis meses atrás, a sogra tinha se mudado para a casa deles — supostamente por pouco tempo.
Vendeu o próprio apartamento, viajou com amigas, e ao voltar, se instalou de vez na sala de estar.
O apartamento herdado por Artem do avô acabou recaindo totalmente sobre Victoria — financeiramente e em termos de tarefas domésticas.
— Bom dia, mãe, — disse Artem bocejando, com uma camiseta amassada.
— Meu filho! — animou-se Valentina Petrovna imediatamente.
— Senta, vou te servir mingau. Vika, serve um café bem forte pra ele.
Victoria serviu o café e colocou diante dele. Ele assentiu sem tirar os olhos do celular.
— Você vai ao trabalho hoje? — perguntou ela com cautela.
— Hoje não. Talvez amanhã… — respondeu ele, ainda rolando a tela. — Tudo o que oferecem é bobagem.
Seis meses antes, ele tinha pedido demissão, dizendo que o chefe era um tirano e os colegas, insuportáveis.
Prometeu encontrar outro emprego em um mês.
Mas os dias passaram… Agora, Artem passava o dia no sofá, jogando ou vendo vídeos.
— O dinheiro está acabando, — disse Victoria, em voz baixa.
— Mas você trabalha, — deu de ombros. — Você tem salário.
— Meio período. Mal dá pra comida e contas.
— Vamos aguentar. Logo aparece algo decente.
A sogra assentiu com a cabeça, aprovada:
— Certo, filho. Não tem que aceitar qualquer coisa.
Você é inteligente, promissor. Espere uma proposta digna.
Victoria terminou o café e limpou a mesa. A louça do jantar ainda estava na pia — como sempre, ninguém mexeu. Ela ligou a torneira e começou a lavar.
— Aliás, — disse Valentina Petrovna, — o borsch de ontem estava azedo. A nata devia estar estragada.
— Ela estava fresca, — murmurou Victoria.
— Pois eu passei a noite com dor de barriga. Da próxima vez, preste mais atenção.
O trabalho na biblioteca dava a Victoria quatro horas de paz.
Havia silêncio, cheiro de livros, os leitores eram educados. O salário — modesto, mas fixo. Na volta para casa, passava no mercado — comprava algo para o jantar.
Em casa, tudo igual: Artem nos jogos, a sogra — no sofá comentando as notícias.
— O menino deve estar com fome, — disse Valentina Petrovna assim que Victoria entrou com as sacolas. — Aposto que não fez almoço, né? Estava trabalhando.
Ela tirou as compras: carne, batatas, legumes. O básico.
— Podia fazer almôndegas, — sugeriu a sogra. — Artem adora. E troca a salada. Essa já enjoou.
— Qual salada a senhora prefere?
— Decide você. Afinal, é a dona da casa.
Victoria começou a cozinhar em silêncio. Cortava a carne, a cebola, preparava o recheio. O óleo chiava na frigideira. A sogra espiava o preparo:
— Abaixa o fogo. Vai queimar. Coloca mais sal, está sem gosto.
— Salgue você, — disse Victoria, seca.
— Tem que fazer certo de uma vez, não ficar corrigindo depois.
O jantar foi, como sempre, diante da TV. Artem comia sem desviar os olhos da tela.
— No geral, dá pra comer, — concluiu Valentina Petrovna. — Mas a carne está dura. Devia ter cozido.
Depois do jantar, Victoria limpou tudo. O marido e a sogra continuaram no sofá.
— Vik, faz um chá. E traz uns biscoitos, — gritou Artem.
Ela levou o chá. A sogra agradeceu:
— Podia ter uma geleia. Chá puro não tem graça.
— Não tem.
— Por quê? Ao menos podia ter comprado mel. Tem que pensar antes.
Victoria pegou um livro, mas não conseguia ler — a casa não tinha silêncio. Na sala — a sogra, a cozinha — minúscula, o quarto — compartilhado.
— Amanhã paga a internet e as contas, — lembrou Artem. — Chegaram os boletos.
— Tá bom.
Era sempre ela que pagava tudo — afinal, era a única que trabalhava. Artem “estava procurando”.
O auxílio desemprego ele não pediu: ora faltava documento, ora perdeu a data, depois nem tocou mais no assunto.
— Amanhã tenho uma entrevista, — disse à noite.
— Onde?
— Numa empresa comercial. Pra gerente.
— E o salário?
— Não olhei. Primeiro quero ver como é.
A sogra apoiou:
— Primeiro eles têm que te avaliar. Você é um profissional valioso.
Na manhã seguinte, ele se levantou, vestiu um terno, Victoria passou a camisa. Ele saiu animado.
Voltou de cara fechada:
— Como foi?
— Um horror. Salário ridículo, carga horária infernal, exigências absurdas.
— Quanto pagavam?
— Não importa. Não serve pra mim.
Tirou o terno, vestiu a camiseta e voltou pro sofá.
À noite aconteceu uma conversa que Victoria nunca esqueceria.
— E se você arrumasse ao menos um bico por enquanto?
— Vai atrapalhar minha busca por trabalho de verdade.
— A gente precisa de dinheiro. Não estou dando conta sozinha.
— Você está exagerando.
— Eu tô cansada. Trabalho, limpo, cozinho, pago tudo. E você só joga.
— Eu tô procurando emprego.
— Uma entrevista por semana não é procurar.
A sogra se meteu:
— Victoria, você está exagerando. Agora não é hora. Não tem emprego.
— Já se passaram sete meses.
— Tenha paciência. Família não é descanso.
Victoria se calou. Discutir mais era inútil.
Um dia, acordou com um pensamento simples: chega. Não aguento mais.
Na biblioteca era calmo. Ela percebeu — era o único lugar onde conseguia respirar.
No caminho de volta, entrou num café, pediu um expresso, ficou observando os passantes. Lembrou — um dia ela e Artem foram felizes. Mas tudo mudou. O marido ficou frio. A mãe se mudou de vez. Críticas, descontentamento, cansaço.
A demissão de Artem foi o golpe final. Ele parou até de tentar. E a sogra ainda o apoiava.
Mais tarde, em casa — a cena de sempre. Artem com o controle do videogame, a mãe tricotando.
— Onde você estava? Artem está com fome.
— Me atrasei.
— Na biblioteca? Fecha às cinco…
Na cozinha, Victoria cozinhava macarrão. Outra vez críticas — sempre a mesma coisa. No jantar — nova onda de reclamações. Comida sem graça, lençol amassado, poeira nos móveis.
E de novo — a culpada era Victoria.
Mais tarde a sogra derrubou um prato. Quebrou. Mas a culpa foi de Victoria — não avisou que o prato era escorregadio.
Ela foi pro quarto. Deitou-se. E então — um pensamento simples:
E se eu for embora?
Fazer a mala. Pegar os documentos. Sair. Viver por conta própria.
Pegou a mala. Colocou o essencial. O resto — não importava.
Caminhou pelo corredor.
— Vik, onde você vai? — ouviu a voz do marido.
— Estou indo embora.
— Pra onde?
— Longe de vocês. Antes que eu me perca de vez.
— E quem vai pagar? Quem vai cozinhar?
— Trabalhem. Aprendam a viver sozinhos.
A sogra falou de família, de dever, de sacrifícios.
— E vocês já sacrificaram alguma coisa?
— A gente te ama!
— Não. Vocês se aproveitam de mim.
— Fica! Amanhã eu juro que vou trabalhar!
— Amanhã você vai dizer de novo: “não é o lugar certo”.
Ela vestiu o casaco, pegou a bolsa.
— Adeus. Não volto mais.
Na rua fazia frio, mas era agradável. O ar cheirava a liberdade.
Ela ligou para a amiga:
— Oi Lena. Posso ficar uns dias na sua casa?
— Claro. Tá tudo bem?
— Melhor do que nunca.
Ela caminhava com leveza. Pela primeira vez em muito tempo — respirava fundo.
Amanhã começava uma nova vida. Incerta, mas só dela.
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