

Grigori amava a estrada — aquela via interminável de asfalto, cintilando no calor do miragem, que se estendia até o infinito, como um convite para novas aventuras.
Para ele, cada viagem longa não era apenas trabalho, mas um tipo de ritual, cheio de solidão, reflexões e uma silenciosa resistência à monotonia dos dias cinzentos.

Desta vez ele partiu sozinho, sem seu parceiro habitual — que estava doente: coração, pressão, idade.
Mas, para surpresa do próprio Grigori, a solidão não o incomodava.
Pelo contrário, o silêncio da cabine, o zumbido monótono do motor e o ritmo constante das rodas permitiam que seus pensamentos se desenrolassem como filmes antigos, trazendo à tona as lembranças mais íntimas.
Seu pai, um homem forte e silencioso, com uma cicatriz na sobrancelha por acidentes na estrada, também era caminhoneiro.
Nos duros anos 90, quando o país se partia e a lei da selva reinava nas rodovias, ele transportava cargas através de tempestades de neve e poeira de verão. Mas um dia, a estrada levou sua vida.
Bandidos escondidos na floresta ao lado da estrada emboscaram o caminhão, atiraram na cabine e fugiram com a carga e o veículo.
Grisha tinha apenas cinco anos na época. Ele lembra daquele dia como um pesadelo terrível: o grito da mãe que rasgava o silêncio do apartamento, sua queda no chão — como se o chão tivesse desaparecido debaixo dos pés.
Ele não entendia por que ela chorava, por que não podia abraçá-lo, por que o mundo de repente ficou cinza e estranho.
Desde então, ele entendeu: a estrada não é só asfalto e quilômetros.
É um lugar onde as pessoas podem desaparecer, deixando um vazio.
Quem o ajudou foi o avô — Fiódor Ivanovich, ex-mecânico de mãos de ouro e caráter forte.
Ele levava o neto para passar os fins de semana com ele, ensinava a consertar motores antigos, desmontar carburadores, se orientar pelas estrelas.
Sua garagem, com cheiro de óleo, ferrugem e tabaco, era um mundo inteiro, onde cada ferramenta tinha seu lugar, e cada defeito sua solução.
Um dia, ele abriu a porta desse mundo para Grisha e disse severamente, mas com carinho:
— Olha, Grigori. A vida não perdoa os fracos.
Você precisa aprender a trabalhar, não é um moleque.
Escolha uma profissão que te ajude a resistir a qualquer tempestade.
Desde então, cada dia na garagem era uma lição de sobrevivência.
O avô ensinava não só a consertar máquinas, mas a encarar corajosamente as dificuldades, a não se quebrar sob pressão.
Sob sua orientação, Grisha tirou a carteira de motorista aos dezesseis, e aos dezoito entrou para o exército — já não um menino, mas um jovem forte e focado.
Voltou dois anos depois — forte, resistente, com a coluna ereta como o pai e o avô.
A mãe, ao vê-lo, não reconheceu o filho: diante dela estava um homem capaz de assumir responsabilidades por si e pelos outros.
Grigori sonhava que a mãe nunca mais passasse necessidade.
Ele conseguiu emprego fácil numa empresa de transporte — suas habilidades, disciplina e capacidade de dirigir caminhão em qualquer tempo falavam por si.
Em um mês, ele e a mãe fizeram uma reforma completa no velho apartamento — trocaram papéis de parede, pisos, cozinha.
Pouco depois, Grisha trouxe móveis estofados, um tapete quente e até comprou para a mãe o fogão de seis bocas que ela sonhava desde a infância dele.
As mulheres reparavam nele: alto, em forma, com olhar claro e sem vícios.
Ele não bebia, não fumava, não frequentava baladas. Parecia uma rocha de confiança.
Muitas queriam conquistar seu coração, mas ele era fechado, como um cofre.
Até que apareceu Katya — brilhante, decidida, com fogo nos olhos.
Ela não jogava nem flertava — simplesmente tomou.
Seis meses depois, eles estavam no altar, e Grisha, olhando para o sorriso dela, pensava que talvez aquilo fosse felicidade.
Mas a felicidade era frágil. Katya alugou um apartamento num bairro novo, que poderia comprar em prestações.
Grisha trabalhava sem descanso — fazia viagens duplas, passava duas semanas seguidas fora, deixando a esposa sozinha.
O parceiro avisava: “Mano, isso não dá — você está cada vez mais longe de casa, e ela fica sozinha.
É solitário.” Mas Grisha não ouvia. Acreditava que dinheiro, conforto e estabilidade eram felicidade.
Um dia, ao voltar de três semanas na estrada, ele encontrou Katya nos braços de outro — um jovem sorridente com seu próprio roupão.
Grisha não gritou, não fez escândalo.
Em silêncio, juntou suas coisas, pôs as chaves na mesa e saiu.
Dirigiu a noite toda até a casa da mãe, sem ligar o rádio, apenas o som da estrada nos ouvidos.
Não chorou. Só sentiu algo dentro dele se partir de vez.
Katya não voltou. Nem uma semana, nem um mês.
Casou-se com um empresário rico e foi morar no exterior.
Grisha lamentou do seu jeito — calado, sozinho.
Depois voltou à vida antiga: estrada, caminhão, mãe, varenyky que ela fazia aos domingos.
Aprendeu a viver com o vazio, mas não desistiu.
E hoje, anos depois, ele está na estrada novamente.
O dia passou num ritmo monótono — quilômetros, postos, caminhões pesados ultrapassando uns aos outros.
A rodovia ficou vazia, o sol se pôs no horizonte, e apenas os faróis raros dos carros que vinham no sentido contrário cortavam a escuridão.
De repente, no retrovisor, ele viu uma silhueta à beira da estrada — uma figura vestida de preto, uma mulher acenando.
Nessas horas, parar é perigoso.
Mas Grigori pisou no freio.
“Não se pode abandonar uma pessoa — pensou. — Especialmente quando ao redor só há escuridão e lobos.”
Quando a mulher entrou na cabine, ele viu — era uma freira.
Traje preto severo, lenço cobrindo o cabelo.
Mas o rosto… Meu Deus, que rosto!
Puro, com traços suaves e olhos que brilhavam com inteligência e cansaço.
Ela agradeceu com voz trêmula:
— Muito obrigada! Se não fosse você… noite, floresta, lobos… eu não saberia o que fazer.
Grisha sorriu:
— Hoje em dia, temer não são os lobos, mas as pessoas.
— E corou de repente. — Bem, não estou falando de mim, claro.
Ela riu baixo, como se tivesse esquecido como rir.
— Me chamo Eva — apresentou-se. — E “madre” já ficou no passado.
— Você é do convento? — ele perguntou surpreso.
— Sim. Saí. Quero ver meu pai. Ele está morrendo. A superiora me liberou.
— A voz dela tremeu. — Rezei, jejuei por quatro anos, mas o coração não pode ficar preso numa gaiola.
Quero me despedir dele. Perdoar… ou pedir perdão.
Então ela contou tudo. Como a mãe morreu.
Como o pai, quebrado pela dor, casou-se com uma mulher que parecia a falecida por fora, mas não por dentro.
A madrasta era maldosa, vingativa e gananciosa.
E o filho dela — da mesma idade que Eva — era igual: mentiroso, arrogante, capaz de tudo por lucro.
Ele a assediava, assustava, uma vez até atacou no jardim.
Quando tentou contar ao pai — ele não acreditou, disse que ela “estragava a felicidade dele”.
Então Eva entrou no convento. Para desaparecer. Para sobreviver.
Agora ela voltava — não pela herança, mas pelo perdão, pelo último abraço.
— Não sei se vão me deixar entrar em casa… — sussurrou.
— Você não deve ir sozinha — disse Grisha firme.
— Vamos passar na cidade. Compramos roupas para você. Vamos juntos.
Uma hora depois, saiu da loja uma moça com um casaco leve, cabelos soltos, salto alto.
Grisha ficou parado. Não esperava que ela pudesse ser tão viva. Tão bonita.
Na porta, foram recebidos por um segurança. A casa estava em um silêncio tenso.
O pai de Eva, Igor Sergeevich, estava deitado na cama, pálido e exausto. Ao ver a filha, chorou e a abraçou.
— Me perdoe, Eva… Eu estava cego. Sou culpado diante de você…
Nesse momento, a madrasta entrou com um homem gordo, de terno caro e gravata.
— Querido! Estou aqui! — exclamou ela. — Vim com o notário.
Você não vai me deixar sem herança, vai?
Ao ver Eva, ela calou-se. O filho, que estava atrás dela, sorriu:
— Oh, e quem temos aqui? Também veio atrás de um pedaço do bolo?
Grigori não aguentou. Avançou, pegou a madrasta pelo braço, levou-a para a despensa e trancou a porta.
Fez o mesmo com o filho dela. De dentro vinham gritos: “Segurança! Segurança!” — mas Grisha apenas disse:
— Que fiquem um pouco. Para pensar.
Depois descobriu-se que Igor Sergeevich foi envenenado.
A madrasta e o enteado misturavam veneno na comida dele por anos, esperando tomar o negócio, os imóveis e as contas bancárias.
A chegada de Eva e Grigori estragou os planos deles. A polícia chegou rápido.
Os golpistas foram algemados.
O investigador declarou:
— Vocês estão presos sob suspeita de assassinato premeditado.
O exame confirmou: havia toxina forte no corpo do empresário.
Um mês depois, Igor Sergeevich começou a melhorar.
Eva e Grisha o levaram para casa — sua casa comum, quente e iluminada, com vista para a floresta.
Grisha trouxe também sua mãe — para que ela pudesse fazer varenyky, sorrir e esperar pelos netos que a vida talvez traga em breve.
E a estrada? Ela ainda chama.
Mas agora Grigori sabe: o que importa não são os quilômetros, mas aqueles que você carrega no coração.
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